Kátya Desessards: exemplos reais de sucesso e de lições aprendidas no ESG

Uma reflexão sobre o Certo…

No ESG, tudo que a empresa faz precisa ser documentado publicamente. Muitos dirão: “mas isso qualquer empresa faz”. Eu replico: “Realmente deveriam, mas NÃO o fazem”. Entre as regras a serem seguidas e a realidade interna das empresas há um ‘limbo’ — ou até um ‘buraco negro’ — que suga as forças vitais daqueles profissionais ou funcionários que querem desenvolver os processos da maneira certa.

Muitos projetos são implantados com sucesso, mas não são — exatamente — o grande sucesso descrito nos relatórios de sustentabilidade… Percebo que esse ‘jeitinho brasileiro’ de fazer certas coisas está no DNA de nossa existência enquanto povo. Fato sociológico e antropológico que a história não nega, apenas floreia…

Por incentivo de alguns leitores que me indagaram sobre as minhas próprias experiências, erros, acertos e cases, trago esse ‘Lado B’ do dia a dia… sem o ‘glamour factual’ sempre atribuído à condução, implantação ou mapeamento do ESG.

Vamos lá… (se depois disso continuarem a me ler… terei alcançado meu objetivo. E serei Grata!) 😊

Já ouvi de gerentes e colegas nas empresas em que trabalhei que tudo ‘depende’ da ‘visão’ da empresa… Juro que por muito tempo não entendi essa lógica. Me parecia um cinismo. Não fazia qualquer sentido se confrontado com os valores que essas empresas diziam ter. Mas depois de alguns anos ‘caí na real’… Foi duro, confesso! Senti o quanto eu estava desconectada da ‘real realidade’ (sim, isso mesmo, quero que seja bem redundante).

Estar diante de uma verdade que não estava nas minhas capacidades de entender, me gerou muita dor. E não estou reclamando, estou constatando. Senti que estava desconectada da ‘realidade’ que esses meus colegas e gestores estavam vivendo, pois, eu não entendia por que se dizia uma coisa nos relatórios, nas palestras, nas formações e em todos os ciclos de comunicação interna e externa dessas empresas; mas na prática, a ação não era — exatamente — igual… Não é que ‘mentiam’, mas não se agia conforme essa verdade propagada.

Você deve estar se perguntando qual é a ‘novidade’ aqui! Então, justamente é essa indagação que eu tinha — e tenho — dificuldade de entender… Mas isso eu também descobri que é um problema bem particular meu (não que eu esteja errada, vou deixar isso BEM claro); minha forma de ver o mundo é bem singular.

Descobri em 2024 que sou autista, e tudo fez sentido. Minha incapacidade de entender o ‘jeitinho brasileiro’, não é algo que eu consigo admitir como conduta aceitável… Mas estou aprendendo a ser mais flexível, maleável, pois não somos pessoas iguais! Não é aceitar ou considerar que o ‘jeitinho’ é o certo. Mas de entender que não somos perfeitos e nem temos a mesma forma de ver as coisas. E, desde então, meu aprendizado é fazer a gestão disso para não sofrer quando não fazem ou não veem – exatamente – como eu. Sofri muito bullying de colegas por pensar diferente e por agir e fazer o que via ser o certo, mas fora ‘do padrãozinho’ interno.

ESG é também um grande exercício diário entre o certo e o possível (e é isso que estou aprendendo), dentro da condução do que é correto ser feito e/ou estabelecido nas empresas. Dito isso, não me considero mais ou menos que nenhum profissional; apenas diferente, com um pouco mais de capacidade de enxergar um pouco mais longe e perceber erros e possibilidades com mais eloquência…

E por que estou contando isso para vocês? Porque a implantação ou condução do ESG em qualquer tamanho de empresa passa por olhar primeiro o S (Social = a PESSOAS).

Nenhum case terá sucesso se a empresa esquecer de estabelecer uma linha muito tênue entre o ‘Feito’ e o ‘Perfeito’; e entre a real verdade dos fatos e a comunicação sobre esses fatos aos stakeholders — sejam eles internos ou externos. Quando há uma visão sistêmica sobre a ética na organização, algumas ações se tornam mais proeminentes e com maior alcance orgânico junto aos formadores de opinião. (E isso será tema de um outro artigo…)

Sendo assim, exemplos de impacto real devem ser copiados sim, adaptados e transformados em régua de aplicabilidade e de resultados. Ações simples ou complexas são faróis que podem conduzir e estreitar sua empresa na solução da equação entre a vontade de fazer e o resultado esperado para evolução e crescimento da sua empresa — seja ela do segmento que for.

O importante de tudo que falei até aqui é você perceber e entender que tudo deve ser feito com Verdade, mesmo que você erre; e vai errar… e tudo certo! Mas faça tudo com consciência de querer fazer o CERTO. Essa é a grande diferença entre o empreendedor/empresário justo e ético e aquele guiado pelo ‘jeitinho brasileiro’.

Repito: errar é parte do aprendizado no processo do ESG, da Inovação e da Criação de novos negócios.

Mas é MUITO importante você introjetar na sua alma: Não tente diminuir etapas ou pular fases! E não torne TUDO nem processo de Scrum… Nem tudo é sobre fazer em menos tempo ou ser ágil; mas fazer com propósito e dando o tempo certo pra sua MATURAÇÃO…

Seja honesto consigo e com sua empresa e funcionários. Afinal, você que é dono de empresa ou gestor serve de pilar ético e exemplo de conduta.

E isso serve também para mim. Consigo perceber que minha condição especial de ver o mundo pode levar-me a ser mais rígida (as vezes imflesível) com a régua entre o que é certo e o que é possível, mas estou — efetivamente — trabalhando isso (diariamente) para ter um relacionamento melhor com as pessoas à minha volta e com os resultados que quero gerar aos meus clientes.

Mas percebo que em vários “cases” que atuei e que atuo, esta minha ‘percepção espacial’ diferente das situações e do mapa das empresas também é um dos meus ativos, pois a análise ou a opinião que meus clientes contratam está SEMPRE motivada pelo meu olhar (sem rodeios) da verdade dos fatos, sem atenuações, sem os pruridos sociais ‘normais’… Claro, eu aprendi a me calar. Mas se perguntar o que eu acho; ou qual é a minha opinião… eu darei; e… sai sem filtro. É mais forte que eu!

“Direto no rim! Difícil ver coragem de trazer a verdade bem crua sem rodeios técnicos”: de um diretor do setor de vestuário.

  “Comecei a ler o relatório e me subiu uma raiva, mas no final entendi que tudo trazia muitas possibilidades de sermos maiores e melhores”: CEO de uma startup do Agro.

 “Menina, você é fogo, quase me fez chorar. Mas agradeço”: do fundador de 82 anos, de uma fábrica familiar (porte médio), do setor do vestuário, em processo de sucessão familiar para o neto.

>> (os nomes das empresas foram omitidos por estarem sob sigilo contratual de confidencialidade).

Estas são algumas das respostas que me incentivam a continuar acreditando que atuar com ESG 360° é o lugar ao qual pertenço. Depois de 21 anos atuando como jornalista de economia e agro e como consultora de comunicação e marketing, iniciei em 2023 uma grande mudança para me reposicionar no mercado como Mentora e Conselheira em ESG… Claro, ainda tenho a Comunicação Estratégica como ferramenta de inclusão e propagação e a Neurociência como ‘modus operandi’ para entender pessoas (inclusive eu mesma) e analisar os cenários das empresas com mais humanidade…

E depois de abrir minha intimidade com você, tanta tensão… vamos aos exemplos (cases) que estão no título deste artigo. Fiz uma pesquisa com empresas de referência em seus setores para estimular você a implantar, melhorar ou readequar o ESG em suas empresas…

Trago dois exemplos por região do Brasil, com Cases de Êxito e Cases de Aprendizado; todos documentados publicamente. Entenda que… Dentro da abordagem ESG (Ambiental, Social e Governança), estes cases (de êxito e aprendizado) são formas de compartilhar experiências reais de empresas que implementaram práticas ESG — com diferentes resultados — para inspirar, orientar e alertar outras organizações a não cometerem os mesmos erros.

As empresas que trago não são perfeitas, mas estão se colocando no lugar de aprender com seus erros e tentar entender o que — realmente — é importante no final de tudo… Preservar a Terra; Cuidar das Pessoas; e Estimular a Inovação; para serem cada vez melhores como pessoas e como empresas. Aqui vai o panorama que preparei:

REGIÃO NORTE

 Case de Êxito: Natura – Amazônia Viva “A Natura já investiu US$ 400 milhões desde 2010 na proteção da Amazônia”, programa que conflui rastreabilidade de cadeia, apoio a comunidades e conservação de dois milhões de hectares. Esse projeto fortaleceu a imagem da empresa e a elevou como referência em bioeconomia, mas também gerou impacto interno ao consolidar uma cultura organizacional voltada à sustentabilidade. A iniciativa envolve mais de 30 comunidades locais, promove geração de renda e estimula práticas regenerativas. Externamente, a Natura passou a ser estudada como benchmark por universidades e ONGs internacionais.

Case de Aprendizado: Energia em Manaus (Eletronorte) – Em 2020, a estatal enfrentou apagões massivos e, em comunicado, admitiu: “lamentamos profundamente os transtornos e já reforçamos equipes de campo para restabelecer o serviço” (Eletronorte, site oficial, jul/20). A insuficiente manutenção preventiva mostrou a importância de métricas ambientais e operacionais claras. Internamente, o episódio levou à revisão de protocolos e à criação de um comitê de resposta rápida. Externamente, a reputação sofreu abalo, mas a transparência na comunicação foi vista como um passo positivo por especialistas em governança pública.

REGIÃO NORDESTE

Case de Êxito: Vivo (Caruaru/PE) – “A Vivo… consome energia 100% renovável e vai produzir 711 mil MWh/ano até meados de 2022”, reduzindo 89% de emissões em unidades locais. Esse projeto integra o plano nacional de eficiência energética da empresa, com foco em usinas solares distribuídas. Internamente, houve redução de custos operacionais e maior engajamento dos colaboradores em ações de sustentabilidade. E externamente, a iniciativa foi reconhecida por prêmios do setor de telecomunicações e citada em relatórios internacionais como exemplo de transição energética em mercados emergentes.

Case de Aprendizado: Saneamento em Salvador (Embasa) – Em 2021, Embasa foi multada por vazamentos de efluentes. No site da prefeitura, a empresa reconheceu: “erro operacional e falha no monitoramento” (Prefeitura de Salvador, dez/21), evidenciando a necessidade de métricas de gestão de resíduos rígidas. Internamente, o caso gerou reestruturação dos sistemas de controle e treinamento técnico das equipes. Externamente, houve cobrança da sociedade civil e pressão por maior transparência, o que levou à criação de um painel público de indicadores ambientais.

REGIÃO CENTRO-OESTE

Case de Êxito: BRF (GO) – Programa de Mata Atlântica Restaurada, que integrou satélites e auditorias independentes, elevou a nota ESG de 45 para 78 em dois anos (relatório BRF 2023). Internamente, o projeto envolveu mais de 200 colaboradores em ações de reflorestamento e educação ambiental. Externamente, a BRF passou a ser citada em rankings internacionais de sustentabilidade e atraiu investidores com foco em impacto positivo. A iniciativa também gerou parcerias com universidades para monitoramento da biodiversidade.

Case de Aprendizado: JBS (MT) – Após reconhecimento público de compra de gado de áreas desmatadas, JBS em comunicado (Ago/2019) afirmou: “revisamos rigorosamente nossa cadeia de fornecedores” – em lição sobre controle de escopo social e ambiental. Internamente, a empresa implementou sistemas de georreferenciamento e bloqueio automático de fornecedores irregulares. Externamente, o episódio gerou forte repercussão internacional, com perda temporária de contratos, mas também impulsionou a criação de uma plataforma pública de rastreabilidade.

REGIÃO SUDESTE

Case de Êxito: Klabin (SP) – Certificada FSC e GRI, reduziu em 35% o consumo de água e aumentou 50% de biomassa em fornos industriais (relatório Klabin 2022). Internamente, isso representou ganhos operacionais e redução de custos energéticos. Externamente, a Klabin foi reconhecida como uma das empresas mais sustentáveis da América Latina e passou a integrar índices de sustentabilidade da B3 e da Dow Jones. O projeto também envolveu comunidades locais em programas de educação ambiental e reflorestamento.

Case de Aprendizado: Vale (MG) – Brumadinho A tragédia de Brumadinho, em 2019, levou a empresa a anunciar: “repensaremos nossos padrões de segurança e governança” (comunicado Vale, Fev/2019), sublinhando a importância de indicadores de riscos e de governança mais robustos. Internamente, a Vale criou uma diretoria exclusiva de segurança e implementou sensores em tempo real em todas as barragens. Externamente, o caso gerou comoção global, ações judiciais e pressão por mudanças estruturais, tornando-se um marco na discussão sobre responsabilidade corporativa.

REGIÃO SUL

Case de Êxito: Grupo TTC (RS) – Startup de logística que adotou SASB+TCFD, aumentou 22% a eficiência de frota e atraiu R$ 120 mi em capital ESG (relatório interno TTC, 2024). Internamente, a empresa criou um comitê ESG multidisciplinar e passou a usar IA para otimizar rotas e reduzir emissões. Externamente, tornou-se referência em logística sustentável e foi convidada para integrar fóruns internacionais sobre transporte verde. O capital captado foi direcionado à expansão de operações com foco em baixo carbono.

Case de Aprendizado: Petrobrás (SC) – Em 2015, vazamento de óleo no litoral catarinense levou à autocrítica: “ampliaremos nossos controles ambientais e fiscalização de dutos” (Petrobrás, Abr/2015), reforçando o valor de planejamento e métricas operacionais. Internamente, a empresa investiu em sensores de detecção precoce e treinamentos emergenciais. Externamente, o episódio gerou protestos e ações judiciais, mas também levou à criação de um protocolo nacional de resposta a vazamentos, com participação da Petrobrás como agente técnico.


KÁTYA DESESSARDS é Jornalista, Conselheira e Mentora em ESG e Comunicação Estratégica. Co-Autora no livro: Gestão! Como Evoluir em uma Nova Realidade?. Experiência de 27 anos em diversos setores do mercado.  |  Quer Saber Mais?  CLICK AQUI    

>> A coluna fonteESG é publicada toda a semana.

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Aldo Cargnelutti é editor na Rede Brasil Inovador. Estamos promovendo os ecossistemas de inovação, impulsionando negócios e acelerando o crescimento econômico. Participe!

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